terça-feira, agosto 28, 2007

Momentos


Hoje uma tristeza mordaz e atroz entrou não consentida no meu coração.
Choro de profunda tristeza, não sabendo de onde vem embora me deixa num vazio de alma que me consome...
Não sei se tem a ver com os pesadelos tidos esta noite e com as poucas horas de sono que estes provocaram, mas estou num vazio enorme.
Recordo que os pesadelos começaram após ter sonhado contigo... um sonho confuso em que simplesmente aparecias enquanto eu tentava evitar-te a todo o custo...
Mas a tristeza hoje persegue-me como à muito, muito tempo não fazia... E neste sentimento ruim que não mais quero sentir, as lágrimas rolam clandestinas, afoitas à minha vontade.
Sento-me só, contemplando a solidão que me cerca...

segunda-feira, agosto 27, 2007

Leonor

A porta rangeu ao abrir, Leonor dá um pequeno salto de susto, enquanto fica expectante a olhar para a porta.
Ninguém entra, apenas se escuta o silêncio da casa a contrastar com a brisa que corre pelas ruas, fazendo dançar as ramagens das árvores.
Leonor levanta-se cautelosamente, impelida pela curiosidade embora receosa por se saber sózinha. Quando chega à porta, espreita para o corredor e nada vê, fecha a porta de seu quarto e volta de novo para a sua secretária onde se prepara para escrever mais uma folha do seu diário.
Desde sempre se sentira motivada para a escrita, sentia-se uma Florbela Espanca no seu sofrer e então escrevia, dias e noites a fio... Mas neste dia ela não mais quis escrever, revoltou-se com a caneta que segurava nas mãos e lançou o seu caderno pela ar... Leonor queria apenas perder tempo com os seus pensamentos, não queria mais escreve-los como forma de os perpetuar, Leonor estava determindada a deixar-se viver ao invés de se conter entre paredes escrevendo religiosamente tudo o que sentia.
Chegara a altura em que sofrer não era mais a solução, por tanto se entregar ao sofrimento, já houverá sofrido mais do que seria suposto para o seu jeito de menina.
Sorri pela primeira vez enquanto se atira para cima da cama. Como ela poderia imaginar que o simples ranger de uma porta a abrir podesse fazer tanto... Mas fora a primeira vez em muitos anos que voltara a sentir-se curiosa... Leonor volta a olhar para a porta... senta-se... olha em seu redor e vai atè à janela de seu quarto, na rua gentes de todos os credos passeiam com ar feliz...
Ela sorri, olha de novo para a porta do quarto e corre para a rua... Mas ao chegar à rua não vê mais quem procurava... Enquanto a fitava pensava ter visto um rosto familiar, sentiu colo num olhar... Agora não sabia mais onde procurá-lo...
Não ficou triste, muito pelo contrário sorriu numa paz imensa, a curiosidade ajudara a superar os seus medos e sofrimento... Agora ela só desejava voltar a reconfortar-se naquele olhar, mesmo não havendo amanhã.

domingo, agosto 26, 2007

Fim de noite


Não sei como foi...
Vi-te como já acontecera anteriormente, mas desta foi diferente...
Vi-te com olhos de mulher, com olhos de quem sabe o que quer.
Tudo decorreu dentro da normalidade, mas sentia-me impelida a cada segundo procurar o teu olhar... E quando o fazia, por vezes, ele cruzava com o teu...
Essa recordação faz-me sorrir...
Por casualidade, ou não, passamos grande parte da noite a falar... o tempo passou sem sequer dar conta, trocamos opiniões sobre modos de estar e algumas coisas mais.

Perdi-me por muitas vezes no teu olhar... Umas vezes crítico, outras vezes simplesmente atento ou argumentativo... Conseguindo até sorrir apenas com o olhar... Senti-te vacilar a determinada altura, mas talvez fosse apenas um desejo meu...

E num olhar doce...

A noite acabou...

segunda-feira, agosto 20, 2007

Ainda...

Ainda penso em ti.
Ainda penso na forma como te deixei entrar na minha vida e como fizéste dela aquilo que vivi.
Ainda me refugio pensando em ti, talvez como forma de não me deixar levar por aquilo que vou vivendo.
Penso em ti como forma de travar aquilo de que tenho medo.
Deixei-te entrar na minha vida, fazendo dela um furacão de sentimentos...
Agora que dela saíste, és apenas um escape para que mais ninguém entre.
Não sei o que sinto, porque hoje só serves para afastar pensamentos que poderiam ir mais além.
É triste perceber que já foste tanto e agora és apenas isto... nada.
Um nada que apenas serve para atrapalhar.

quarta-feira, agosto 15, 2007

Estranhezas

Sinto-me estranha...
Na realidade não consigo perceber o que sinto... Recupero de uma perda dolorosa embora esperada e sinto que em relação a isso, estou numa desilusão profunda o que faz suavisar a dor...
No entanto, sinto-me à deriva num mar que desconheço, embora destemida enfrente a novidade, correndo o risco de algures perder contacto ocular com terra e ficar à deriva, numa jangada de bambú...
O que se passa na realidade não sei, mas deixa-me estranha, sucumbida por milhares de pensamentos todos relacionados e carregados de imagens visuais muito fortes, como se todos os pensamentos fossem flashes alucinantes de momentos de um passado muito recente, misturados com momentos instantaneos que rápidamente saltam em voo temporal para um futuro que desconheço voltando novamente ao passado...
A cabeça dói... é excesso de informação, é sono... é até aquilo que eu não sei e alguns ai's sucedem-se deixando-me muda, inquieta, mas com uma estranheza tão grande...
Contínuo à deriva... relembro quando pensei ter visto terra, quando lutei com todas as minhas forças para lá chegar, relembro o que sofri sobre um sol escaldante, lutando apenas com dois braços contra a força do mar, mas não era terra era o que eu mais desejava, água para beber, alimento para comer, era simplesmente tudo o que eu precisava... Relembro o dia em que lá cheguei e no pequeno banco de areia chorei... Lutei por algo que não havia, lutei pelo que queria e em vez de àgua encontrei um banco de areia sem nada... Alí deixei-me ficar durante horas, o sol caiu e a lua nasceu, até que novo sol surgiu num céu azul. Respirei fundo, olhei em volta e pensei que mais sózinha do que já estava, que mais à deriva do que já estava não podia ficar, limpei as lágrimas salgadas ressequidas num rosto marcado pelas intempéries, peguei na minha jangada de bambú e lancei-me ao mar...
Avisto aquilo que me parece terra, mas desconfio dos meus pensamentos já fui atraiçoada uma vez, não quero correr riscos, mas as imagens surgem e cada vez parecem mais próximas embora já não consiga distinguir a relaidade do pensamento... Estou cansada, preciso de uma noite de sono descansada, depois do meu banho tomado.