segunda-feira, agosto 27, 2007

Leonor

A porta rangeu ao abrir, Leonor dá um pequeno salto de susto, enquanto fica expectante a olhar para a porta.
Ninguém entra, apenas se escuta o silêncio da casa a contrastar com a brisa que corre pelas ruas, fazendo dançar as ramagens das árvores.
Leonor levanta-se cautelosamente, impelida pela curiosidade embora receosa por se saber sózinha. Quando chega à porta, espreita para o corredor e nada vê, fecha a porta de seu quarto e volta de novo para a sua secretária onde se prepara para escrever mais uma folha do seu diário.
Desde sempre se sentira motivada para a escrita, sentia-se uma Florbela Espanca no seu sofrer e então escrevia, dias e noites a fio... Mas neste dia ela não mais quis escrever, revoltou-se com a caneta que segurava nas mãos e lançou o seu caderno pela ar... Leonor queria apenas perder tempo com os seus pensamentos, não queria mais escreve-los como forma de os perpetuar, Leonor estava determindada a deixar-se viver ao invés de se conter entre paredes escrevendo religiosamente tudo o que sentia.
Chegara a altura em que sofrer não era mais a solução, por tanto se entregar ao sofrimento, já houverá sofrido mais do que seria suposto para o seu jeito de menina.
Sorri pela primeira vez enquanto se atira para cima da cama. Como ela poderia imaginar que o simples ranger de uma porta a abrir podesse fazer tanto... Mas fora a primeira vez em muitos anos que voltara a sentir-se curiosa... Leonor volta a olhar para a porta... senta-se... olha em seu redor e vai atè à janela de seu quarto, na rua gentes de todos os credos passeiam com ar feliz...
Ela sorri, olha de novo para a porta do quarto e corre para a rua... Mas ao chegar à rua não vê mais quem procurava... Enquanto a fitava pensava ter visto um rosto familiar, sentiu colo num olhar... Agora não sabia mais onde procurá-lo...
Não ficou triste, muito pelo contrário sorriu numa paz imensa, a curiosidade ajudara a superar os seus medos e sofrimento... Agora ela só desejava voltar a reconfortar-se naquele olhar, mesmo não havendo amanhã.

Sem comentários: